Reportagens

Empreendedorismo na Moda

Começamos o ano de 2018 a falar de empreendedorismo e moda. Fomos conversar com Cândida Pinto, uma  jovem empreendedora de 36 anos, que mudou a sua vida, quando resolveu criar a marca de vestuário Embrace Inc, concretizando um sonho. Conhecida pelos casacos de pêlo sintéticos de elevada qualidade e criatividade, a Embrace tem vindo a marcar presença em vários desfiles de moda, constituindo um caso real de empreendedorismo na moda. Conheça esta história, contada na primeira pessoa:

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Ana Canavarro: A Cândida deixou uma carreira no ensino, pela Moda. Como e quando surgiu o sonho de criar a Embrace Inc.?

Cândida Pinto: Tenho uma amiga mais velha e sábia do que eu que sempre me disse: uma semente de rosa nunca vai dar outra flor qualquer. Por maior que seja a pedra ou aridez por cima de uma semente, quando a essência de alguma coisa é muito forte, acaba por florescer. Foi um pouco isso que aconteceu comigo: apesar da minha carreira estável e de adorar o que fazia, havia como que uma outra “vida” por cumprir e eu resolvi ganhar coragem e segui-la. O sonho de criar a minha marca surgiu de um processo de busca interior e estética. Tentei investir nele enquanto ainda estava no ensino, tirei um curso de costura à noite e fui alinhavando devagar o que iria fazer quando saísse. Desde que comecei a mostrar o meu trabalho, os casacos de pêlo sobressaíram sempre. Adoro o toque de um material excelente e a atitude que transmite. É muito mais do que um objeto de desejo, é uma peça que transmite uma filosofia de vida e uma atitude de rebeldia, coragem e confiança perante a vida, sem perder a suavidade e encanto feminino.
Achei uma boa ideia começar a marca por algo que eu soubesse fazer bem e que ficasse na memória das pessoas, avançando depois conforme o meu mood e possibilidades. Na minha segunda temporada, já acrescentei acessórios, casacos de homem e vestidos. O nome EMBRACE INC. pretendia, logo desde o início, dar-me essa liberdade:  transmitir o conforto e suavidade das peças, defender valores de garra e assertividade estética, e também a ideia de poder crescer e incluir no meu projeto novas pessoas e ideias. E é isso que tem acontecido.

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AC: Sendo um processo de mudança, que envolve risco associado, pensou, a certa altura do processo, em desistir? Em caso afirmativo, como conseguiu superar o receio?
CP: Na minha opinião, a gestão das expectativas e dos riscos associados a um negócio como este passa muito pelo auto-conhecimento e pela permanente avaliação crítica e ponderada do que se está a fazer. Eu considero tão perigoso ser demasiado pessimista como otimista. Ouve-se muito falar em empreendedorismo associado a um espírito combativo, em que o único cenário possível é o sucesso. Mas a realidade não é assim – a maior parte deste percurso tem sido cheia de bons momentos, mas há alturas em que a dúvida se instala e começo a achar que isso é muito bom, porque naqueles dias em que consigo olhar para os obstáculos e desmontá-los friamente, tenho chegado a ideias que acabam por ter sucesso. Os problemas podem ser os nossos maiores mestres. É preciso olhar para a totalidade do negócio e avaliar que estratégias estão a conduzir a que consequências e ir reprogramando, de acordo com a nossa visão.

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AC: Se pudesse definir a marca Embrace em três palavras apenas, quais seriam?
CP: Confortável, irreverente, urbana.

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Embrace


AC: Como visualiza a mulher (consumidora-tipo) que veste Embrace?
CP: Temos vendido bastantes peças a pessoas ligadas ao mundo da moda, porque estas mulheres acompanham muito as tendências e o pêlo, desde o mais convencional ao mais ousado, tem sido omnipresente nas coleções de outono e inverno. A mulher que veste Embrace Inc. é uma consumidora consciente, amiga dos animais, que procura uma peça super trendy, de elevada qualidade a um preço acessível. Tem muita atitude e presença, e gosta de ter um guarda roupa versátil que lhe simplifique a vida. Antes de comprar a peça, primeiro apaixona-se, porque é sonhadora e carismática. Normalmente, quem compra um casaco, acaba por usá-lo de imensas formas diferentes: com looks mais elegantes e outros mais desportivos, conforme a inspiração da cidade e o que tem para fazer naquele dia. Curiosamente, também vendemos muitos casacos a homens apaixonados, normalmente com o objetivo de fazer uma surpresa. A Embrace Inc. é uma marca romântica também.

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AC: Quais as plataformas digitais que utiliza para promover a marca e canais de venda associados (on e offline)?
CP: Neste momento, vendemos via Facebook e Instagram. Em breve, vou ter também uma loja-atelier na Rua dos Capelistas, em Braga, com o objetivo de mostrar um pouco melhor a nossa proposta de valor e a magia da criação das peças. Todas as nossas peças, especialmente os casacos, têm uma história por detrás e eu adoro partilhar esse lado do produto. Nesse sentido, acho que vai ser excelente ter um local de trabalho em que posso fazê-lo. Também estamos a trabalhar num site/catálogo online. Mas devagar se vai ao longe e a Embrace Inc. ainda não comemorou o seu primeiro aniversário.

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AC: Se lhe pedissem um conselho para futuras empreendedoras, qual seria?
CP: Apesar de ainda ser muito cedo para eu dar conselhos seja a quem for, diria: aconteça o que acontecer, procura sempre o equilíbrio: não te prendas de forma fundamentalista à tua visão inicial (ouve o feedback das pessoas e adapta o produto aos tempos), mas nunca comprometas o ADN da tua proposta (essa é a tua marca). E acima de tudo, acredita que tudo vai correr bem!

Artigo escrito por Ana Canavarro, autora do blogue marketingdigitalretalho.eu. A Ana é licenciada em Direito, pós-graduada em Marketing Management e em Gestão Empresarial e doutorada em Ciência Política, Cidadania e Relações Internacionais. Posteriormente, fez um curso universitário de Marketing Digital de Moda. Depois de 12 anos de experiência profissional na área do Retalho - Gestão de Centros Comerciais, nas áreas de Leasing, Marketing e Brand Activition é, agora, Community Manager na agência Modal Creativity.